sexta-feira, 3 de julho de 2009

~*Capítulo II~


---Capítulo II - Em casa


Parei frente à porta, me perguntando se estava fazendo o certo. Ela poderia ser uma ladra (uma ladra interessada em alguém que nem ao menos anda com documentos?); ou talvez alguma maluca (Uma maluca que era lúcida o bastante para me convencer a ajudá-la?); ou uma Angelina... Até hoje não sei se era essa hipótese ou a própria presença dela, uma desconhecida, que me assustava. Voltei-me para Minna:

-Minna, caso alguém se dirija a você, diga que... – Sem qualquer desculpa em mente, desisti. – Fique quieta.

-Certo! – A voz alegre dela acabou por me dar a coragem que faltava.

Abri a porta e dei um passo para dentro de casa, percorrendo todo o cômodo com o olhar à procura de Tifanny. Tive azar o bastante para encontrar Vladmir, o mulherengo da casa:

-Olá, querida... – Ele dirigiu-se à Minna, ignorando totalmente a minha presença. – Como se chama?

-Fique quieto. – Ela disse calma enquanto sorria orgulhosamente. Havia entendido totalmente errado o que eu a mandei fazer. De qualquer modo, a expressão de Vladmir me deixou feliz. Tive de me conter muito para não sorrir pelo ocorrido ou mesmo rir da cara dele.

-Esse malvado fez algo ruim para você? – Ele insistiu.

-Fique quieto. – Realmente, eu estava começando a gostar dessa garota.

-Vamos, deixe-o de lado. - Obriguei-me a dizer, mesmo gostando da cena. - Tifanny é mais importante agora. – Minna me olhou e assentiu com a cabeça, sorrindo.

-Ela saiu. – Afirmou Vladmir, escorando-se na parede mais próxima. Ele sempre fazia isso quando era rejeitado.

-Aonde ela foi?

-E isso me importa? – Era costume dele, também, responder isso quando se tratava da Tifanny. Eu até nem sabia por que perguntava. Vladmir tinha muito medo dela; a única garota que jamais caiu em uma única palavrinha gentil, se recusa a responder perguntas e ainda fez o possível para colocá-lo nos eixos. Entendo perfeitamente o porquê do temor e agradeço até hoje por não estar na pele dele. – Por mim ela nem volta.

Suspirei para conter a irritação e fui para o meu quarto, nem notando que Minna ainda me seguia. Somente quando fui fechar a porta do quarto que a notei segurando um porta-retratos:

-Essa é a Tifanny? – Apontou para uma mulher ruiva.

Minha reação não poderia ter sido pior. Arranquei o porta-retratos da mão dela e bati a porta, deixando-a do lado de fora. Eu não permitiria que mais alguém me obrigasse a contar aquela mesma história. E naquele momento estava odiando Tifanny por ter colocado aquele porta-retratos ali novamente mesmo sem meu consentimento. Fiquei algum tempo sentado atrás da porta olhando o retrato, depois levantei e abri a porta para ir procurar por Minna e pedir desculpas. Ela ainda estava parada ali, quieta.

-Minna...

-Perdão... – Interrompeu ela. – Eu não...

-Eu sei. – Respondi baixinho. – Apenas... Esqueça isto. Vou pegar uma toalha e algo seco para você vestir. – Eu disse enquanto saía.

Perdi algum tempo procurando a toalha e nem me atrevi a pegar algo da Tifanny para emprestar à Minna. Depois daquilo não tinha certeza se era hora de falar sobre Minna para ela e muito menos estava a fim de depender da ajuda dela. Isto soa totalmente infantil, mas é o que acontece até hoje quando me irrito com alguém. Voltei para o quarto e procurei a roupa mais nova que eu tinha. No caso, era um blusão verde que nunca usei na minha vida. Entreguei pra Minna e saí do quarto, pedindo para ela me avisar quando estivesse pronta, o que não demorou muito.

Abri a porta sem qualquer demora e fechei-a com a mesma rapidez. Pelo visto, nem sempre o que é novo é recomendável. Aquela porcaria era curta... Extremamente curta. Respirei fundo e entrei no quarto, indo direto para a gaveta procurar outra coisa.

-Algum problema? – Ela perguntou.

-Nada demais... Só... Verde não combina com você.

-Então porque não procura algo rosa...?

-Vem cá, que tipo de homem você acha que eu sou? – Minna não respondeu. Na verdade, duvido que ela tenha ao menos entendido a pergunta. “Será que todos os anjos se vestem de rosa?” Lembro de ter pensado. Foi uma cena um tanto quanto ridícula.

Continuei procurando por um bom tempo, mas nada parecia ser muito mais comprido que aquele blusão. Fechei a gaveta. Foi então que me lembrei do baú da mãe de Tifanny. Eu odiava me lembrar dela. Não que ela fosse uma má pessoa, (muito pelo contrário), mas lembrar de Clarine - este era o nome dela - me fazia lembrar de uma história não muito agradável que aconteceu antes mesmo de conhecê-las. Eu tinha certeza que ver Minna para cima e para baixo com as roupas desta mulher não iria ajudar nem um pouco a esquecer o ocorrido, mas era minha única escolha. Fui até um quartinho que ficava no final do corredor e peguei a primeira coisa que apareceu. Acaso ou não, foi um vestido cor-de-rosa.

-Que amor... – Minna comentou em um sussurro.

-Por que está sussurrando?

-Não estamos brincando de detetives?

O barulho do impacto entre minha mão e testa foi a resposta.

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